quarta-feira, 2 de julho de 2014

Nada mudou, mas tudo está diferente

Carta que o Pedro me enviou: http://migre.me/keQiD
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"Mudaram as estações e nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente".

Pedro, pensei que a inspiração tivesse me abandonado, mas é tão mais fácil escrever para alguém. É como se eu quisesse te contar algumas coisas e você estivesse ao meu lado, me ouvindo, calado, apenas ouvindo. Li sua última carta e demorei um pouco para te responder. Você falava sobre responsabilidades, contas a pagar e sobre o tempo que vai nos devorando. Hoje começo a carta com uma música da Cássia Eller que antes não fazia nenhum sentido. Hoje faz. Antigamente, eu não tinha maturidade para entender o que a letra queria passar. Acontece que tenho me deparado com uma vida estranha, uma vida cheia de mudanças, pessoas novas, pessoas que desapareceram. Como pode acontecer algo assim? De repente, você é alguém na vida de outra, do nada, você não sente sequer carinho. Tem algo diferente aí e eu não sei te explicar.

Minha mãe sempre me dizia que as pessoas precisam seguir em frente, mas eu não sei lidar com essas partidas. Ou melhor, não sabia, hoje em dia sinto-me mais desapegada. É que de vez em quando cansa, sabe? insistir em alguém cansa, tentar ser de alguém cansa ou tentar fazer com que alguém seja da gente. E eu fui me cansando de tantas coisas, talvez tenha me tornado um pouco mais velha, meus cabelos brancos não negam isso. Estou me sentindo um pouco mais madura, porém sensível. Comecei a observar pequenos detalhes que antes não faziam alguma diferença. Foquei mais nos problemas alheios e esqueci dos meus. É como se eu tivesse guardado os meus problemas dentro de uma gaveta. Sinto uma enorme vontade de ajudar, fazer o bem, de estender a mão. Estou rodeada de boas pessoas, mas sinto-me só.

É desesperador se sentir só. Eu não suporto o silêncio e já disse isso ao meu terapeuta. Ele ficou em silêncio só pra analisar o que eu fazia, quase surtei. Mas, Pedro, alguns amigos meus se foram, alguns familiares também. Algumas amizades minhas não estão me preenchendo mais. As pessoas mudaram, está tudo diferente. Você me perguntou quais são as decisões que eu tenho tomado, e eu te digo que estou tentando ser alguém melhor. Não quero estar desesperada com os meus problemas ou com as mudanças que estão ocorrendo. Mas, se eu ficar sozinha, tudo me dói.

E assim, eu encerro minha carta, mas antes me diga se você tem medo da solidão.

5 comentários:

  1. O cansaço do cansaço pode ser o primeiro passo.
    GK

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  2. Li ambas as cartas e cheguei a conclusão de que todo mundo vive essa transição, a vida cobra que cresçamos, adquiramos responsabilidades e com isso somos forçados a adentrar na vida adulta. Ser adulto, entre muitas coisas, é essa mudança retratada nesse trecho da música que você postou no início. Ninguém avisa o que ta acontecendo, nem o que vai acontecer, só somos forçados a largar certas coisas, pessoas, e descobrir outras novas. E sim, a solidão dói. Solidão interna, então, muito mais.

    http://www.novaperspectiva.com/

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  3. Parabéns! Tens um talento ímpar!

    http://sonhosliricosencaixotados.blogspot.com.br/

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  4. Hey flor, eu me identifiquei bastante com o que escreveu. Houve um momento da minha vida em que absolutamente nada me bastava, nada preenchia, e eu me revoltava. Porque não bastava mais?
    Porque eu queria mudar desesperadamente, estava lá super sociável e na verdade parecia que eu estava olhando o mundo passar pela janela de um carro em movimento. Rápido e distante.
    Passei meses procurando algo que me instigasse novamente, quase abandonei minha faculdade. Não fazia questão das minhas amizades, mas ao mesmo tempo não suportava ter que lidar comigo mesma.
    Até que, não sei, as coisas se ajeitaram. Ou ao menos melhoraram. Eu encontrei algo pra me instigar, ultimamente eu to louca da vida por estudar, sério! Não o que é da faculdade, mas por fora, voltei com o blog, tá tudo frenético! hahaha
    Adorei o texto, você é muito boa com as palavras, apesar do seu estilo ser bem diferente do meu no quesito literatura. rs


    Beijos.
    www.jadeamorim.com

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  5. É desesperador se sentir só, sinto isso, mas o pior é que não quero companhia.
    Queria poder viajar pra um lugar onde não conhecesse ninguém, conversar com pessoas desconhecidas, observar gestos, ações, palavras, olhares. Sumir um pouco do "meu mundo."
    To precisando de "me jogar" mais. Foquei tanto em estudos e esqueci de todo o resto.
    No meu caso não é crescer, é regredir.

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