domingo, 31 de agosto de 2014

Mulheres iludidas

Tem muita gente que não sabe o que quer. Tem muita gente achando que dinheiro cai do céu. Tem muita gente despreocupada com o futuro. Tem muita gente que empurra a vida com a barriga. Tem muita gente esperando sempre algo de alguém, mas nunca espera nada de si próprio. Tem muita gente imatura, egoísta e ambiciosa no mundo. Tem muita gente que finge gostar de algo só pra impressionar alguém. Tem muita gente pra tudo, mas a pior coisa é ter gente que se ilude com o amor do outro.

Deixa eu te contar um breve relato. Maria era uma moça que gostava de João. Gostava do beijo com sabor de hortelã, dos abraços apertados e do prazer imenso que sentia quando os dois se encontravam. João até gostava de algumas qualidades de Maria, fingia até se importar, mas não sentia amor por ela. Sabe como Maria sabia disso? eles não estavam juntos e nunca estariam. Fim da história. Não sabemos o que Maria fez com o relacionamento dos dois, que fim você daria? Começar um relacionamento sozinha, muitas mulheres começam. Elas criam dentro de si uma relação que não existe, um ciúme que não tem motivos, centenas e centenas de tentativas frustradas de conversas só para saber se os dois teriam algo. Eles não teriam. Os iludidos acham que não estão sendo iludidos e que há controle da situação. Eles mandam no coração e saem daquela relação a hora que quiser. Mas não é bem assim.

Entrar em "alguém" é difícil. Você começa com uma brincadeira, algo bastante controlável, mas logo percebe muitas coisas. Logo, você se pega gostando dos olhos daquela pessoa, depois da cor do cabelo e do cheiro, aí quando viu já virou amor. Mas não é amor, é encantamento. Quem já se viu alguém amar sozinho? Amor é reciprocidade. Assim como na breve história de Maria, algumas mulheres não colocam o ponto final e vão levando a relação. Dói, elas sentem a dor, mas arriscam. Talvez a vida as ensine, mas algumas nunca irão aprender e levarão a história até não restar nada do coração.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Sobre ter e ser

Sou do tempo de ganhar dez reais da mãe e ir ao shopping tomar casquinha de sorvete. Sou do tempo de estudar em um colégio e fazer cotinha para comprar lanche na hora do recreio. Sou do tempo de usar all star rabiscado e mochila preta. Sou do tempo de ter um celular grande que só servia pra ligar, atender chamadas e jogar o jogo da cobrinha. Sou do tempo de ir ao parque de diversões quando um ingresso valia para duas pessoas. Sou do tempo de ter hora pra dormir e hora pra acordar. Sou do tempo de gostar de um rapaz, ficar com vergonha e adicionar ele no msn. Mas, se ele não notasse minha presença, não tinha problema, eu entrava e saía para chamar atenção. Sou daquela época que as amigas dormiam uma na casa da outra e falavam sobre os gatinhos do colégio. Sou daquela época que devorava um livro em dois dias e que assistia séries a tarde inteira.

É óbvio que vamos crescendo e o mundo vai avançando, mas sinto medo de todo esse avanço. Um avanço que para mim tem seus benefícios, mas tem seu lado ruim também. Sinto a ligeira impressão de que as pessoas não vivem mais, elas correm contra o tempo. Todo mundo carrega uma pressa dentro de si mesmo e uma ansiedade difícil de controlar. Talvez o mal do século seja de querer tudo ao mesmo tempo. As crianças de hoje em dia não brincam mais. Elas não se melam na areia, não jogam na rua e muito menos recebem uma mesada de dez reais dos pais. É aquele velho ditado de "tudo tem seu tempo", e concordo plenamente! O desejo de estar sempre consumindo mais nos faz querer ser. Ser melhor do que o outro, ser mais importante, ser mais rápido, ser a melhor esposa. E querer ter também faz parte da nossa vida. Ter algo, ter o melhor carro, ter o melhor relacionamento, ter mais dinheiro. Ter, ser, ter, ser. 

Certo dia, vi uma frase que me fez pensar e que estou carregando dentro do meu novo eu. O meu novo eu que recomeça, assume erros, tenta melhorar e se faz mais presente. "O que te faz feliz?", dizia um rabisco que vi em uma anotação de caderno velho. Acho que a maioria das pessoas estão tão preocupadas em querer ser e em ter algo que esqueceram o que realmente faz bem para cada uma delas. Talvez, lá no fundo, ninguém saiba o que realmente deixa alguém feliz e na busca de querer algo mais, a decepção chega e frustra. 

Viva cada dia de uma vez. Tudo tem seu tempo e já não há mais ditado certo. Crianças precisam ser crianças e adultos precisam reconhecer que a maior idade chegou. Não queira ser algo demais, não deseje algo que não se pode ter. As melhores pessoas não são nada e possuem apenas o que elas merecem. 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ana e um novo alguém

Ana era uma moça que acordava todas as manhãs com vontade de desistir. Ela não conseguia abrir os olhos, pois tinha medo do que podia encontrar pela frente. Ela se fechava para os relacionamentos, pois já havia quebrado o coração diversas vezes. Ela não acreditava mais nos amigos porque muitos a abandonaram no momento mais importante. Ela não tinha fé, pois as pessoas da religião dela criticavam os outros. Ela não conseguia demonstrar amor pela mãe porque era tão mais fácil ter orgulho. Ana tinha grandes problemas e o principal problema dela era a ansiedade que sentia ao tentar encontrar alguém.

Ela se envolveu com homens casados que nunca abandonaram suas esposas, ela se envolveu com rapazes que namoravam, mas que jamais trocaram suas namoradas por Ana. Ela se envolveu com homens legais, mas que não sentiam nada. Ela se envolveu com pessoas do mundo inteiro. Não importava a raça e nem a cor, mas não obteve sucesso. Bateu em vários corações e perguntou se havia lugar ali, mas nenhum quis se abrir para que ela pudesse entrar. Com isso, a frustração chegou e fez com que as esperanças caíssem dentro de um ralo. 

Mas, a solidão fez com que Ana percebesse muitas coisas. Ela pode perceber que abrir os olhos pela manhã só dependia dela e que o mundo não iria parar por causa disso. Percebeu também que amigos de verdade são poucos, mas sempre tem alguém que consegue ser amigo de verdade e que consegue acolher no momento de dor. Percebeu que ela não podia desistir da fé dela por causa de pessoas, pois a religião era formada por indivíduos que erravam diariamente e que ela precisava de algo para acreditar. Aprendeu que precisava demonstrar amor por sua mãe porque o dia de amanhã pode acabar e ela não teria tempo de dizer um "eu te amo". E o mais importante, ela aprendeu que se envolver com alguém requer muita coragem e que qualquer pessoa pode machucar um coração.

Ela aprendeu que a Ana de antes, do passado, devia morrer e nascer um novo alguém. O amor chegaria e não precisaria pressa. O que é dela tá guardado e o que é seu também. 

sábado, 16 de agosto de 2014

O medo de ter medo

Para Pedro Araújo

Estava relendo a sua carta e prestando atenção em cada palavra escrita. Parece que hoje (sim, no dia de hoje) tudo faz mais sentido. Tive muitas promessas roubadas. Você me perguntou na última carta e antes, eu não saberia responder, mas já consigo te dizer que foram inúmeras promessas que me fizeram e não cumpriram. Mas, tenho que dizer que depositei muitas expectativas em cima de alguém e quis tudo fosse do meu jeito. Aprendi que não pode ser assim. O que venho te trazer na carta de hoje é o medo. Medo que me apavora, que não me deixa dormir e que me faz pensar várias vezes. Sinto medo de não realizar tudo que tanto desejo.

Você já parou pra pensar que o tempo corre e nós estamos sempre tão apressados? Já parou pra perceber que anoitece rapidamente e de vez em quando, ficamos na cama o dia inteiro? Já parou pra pensar que os nossos amigos vão deixando a nossa vida e só nos damos conta quando procuramos por eles? Já parou pra pensar que tá tudo tão absurdo que até o mais absurdo virou normal? Tenho medo, sabe Pedro? medo de não ser boa o suficiente no meu emprego, de chegar uma situação tão ruim e minha vida revirar, de não ter o casamento dos meus sonhos e de não sobrar nenhum amigo. Sinto medo de não viajar pra onde desejo e de valorizar quem não precisa ser valorizado. Tenho medo do amor não ser pro meu bico e de morrer antes de ter lido todos os livros que estão na minha prateleira. Tenho medo de ter medo.

Sonhar é incrível, realizar é mais difícil. E sabe, todos os dias, abro os olhos e quero recomeçar. Mesmo com o medo andando ao meu lado, tento valorizar a simplicidade da vida. Tem dias que olho para o céu e fico pensando em como Deus é perfeito por criar uma imensidão azul com nuvens que são desenhos. Acho que tudo é a maneira que você escolhe enxergar. Mas, quando estamos fracos, sozinhos e com o coração cheio, a insegurança, o medo e a vontade de desistir ficam ao nosso lado. Só que sei lá, acho que precisamos agarrar tudo aquilo que nos faz bem e sorrir com gratidão. 

E você, quais são os seus medos?

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Do outro lado da rua tem magia

Do outro lado da rua tem magia, mas com o tempo você vai percebendo que já não tem tempo para a falta de tempo. Você tem pressa para que tudo passe rápido, mas tem medo do que pode está por vir. Nós, seres humanos, somos complicados e inconstantes. Falo por mim que estou sempre tão ansiosa por algo que ainda não chegou. Não percebemos, mas vamos mudando aos poucos e sim, não percebemos, pois já não temos tempo de perceber. Em uma roda de amigos soltamos algumas frases do tipo "O ano já tá acabando", "O que nós temos feito da vida?". A verdade é que nunca saberemos a mágica que existe do outro lado da rua. E se, não quisermos atravessar, aí nunca saberemos o que nos espera.

Algumas pessoas se acomodam e só buscam algo quando realmente estão necessitadas. É tão mais fácil reclamar com Deus por nossas escolhas, mas devemos entender que Deus não nos manda caminhos errados, nós é que decidimos entrar em uma rua sem saída. Nós fazemos as nossas escolhas, tomamos as nossas próprias decisões e pagamos por nossos atos. A gente só sabe rezar quando precisa, só muda daquele emprego que nem gosta quando é colocado pra fora, só diz que ama quando a pessoa já se foi. A gente só sabe criticar, nos afastamos das pessoas que mais amamos por motivos tolos, erramos e não sabemos perdoar, nos irritamos com qualquer comentário.

Do outro lado da rua existe uma magia, mas a maioria das pessoas não tem coragem de andar entre os carros, sabe? Ficar parado e sentado não vai adiantar nada. O tempo vai nos consumindo e nos tirando a vontade. A vontade de amar, de viajar, de ser feliz. E sim, se não tivermos cuidado, vamos estar sentados em uma cadeira de balanço cheio de cabelos brancos e a nossa única companhia vai ser o tempo. Até que um dia ele vai nos levar. E aí, o que você tem feito da vida? Do outro lado da rua tem magia.